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Os pequenos e o esporte: qual a medida?

As famosas "vontades esportivas" começaram por aqui, confesso. Esperava-as só lá pelos quatro, cinco anos, quando tivesse um "círculo de amizades" maior e, principalmente, quando entendesse um pouco mais do que significa uma "aula". 

 

Pois bem. Nas férias de julho, fui surpreendida por constantes pedidos para "ser balalina". Se era por conta dos desenhos da Angelina Ballerina, ou pelas "fantasias" de rodopiar por aí de tutu rosa (não que ela precisasse de um motivo real para isso, maaaas...)... Não sei precisar. Relutei por algumas semanas, até matriculá-la numa academia bacana, perto de casa, com muitas opções de atividades.

 

Logo compramos um "kit" essencial de roupinhas, e lá se foi a pequenina, saltitante, para suas aulas de ballet. However... A coisa não foi bem como esperávamos - nem pra ela, nem pra mim.

 

Acho que ela não curtiu a "rotina" da aula. Ter de fazer conforme as regras, igual a todas as coleguinhas. Ela ama se fantasiar, chega toda faceira e... abre um enorme chororô pra entrar na aula. E, quando (por milagre) entra, fica perambulando pela sala a aula inteira. Não faz nada.

 

Em compensação, tem especial pendor por uma atividade que se chama "circuito lúdico". É a várzea, em português inculto e belo. As ideias de movimento estão ali, mas as crianças pequenas - entre 18 meses e 4 anos - escolhem como participarão da aula. Saltitos de felicidade antes, durante e depois da "aula".

 

O grande dilema veio quando ela pediu para entrar na natação "cazamiga" (pois é, ela fala assim mesmo). Será que não eram atividades demais??? Ballet, circuito, piscina, tudo no mesmo dia???

Não, não tenho uma resposta ainda. Acredito que, do fundo da alma, nem ela. 

 

Resolvi escrever esse post não apenas para dividir angústias, mas algumas inquietações pessoais com a performance esportiva de crianças muito pequenas. Peeps participou, por diversão, de duas "provas" de corrida em outubro. Oportunidade em que presenciei muita coisa bacana - e também muita bizarrice "da grossa" (hoje a norma culta foi viajar, desculpem!!!). Por isso, arrisco-me a dar meus pitaquinhos pessoais, apesar de não ser especialista em educação física, movimento infantil, e tampouco em maternidade. Mas vá lá.

 

* Esporte, pra criança pequena, precisa ser diversão. E ponto.

Deixou de ser divertido, deixou de ser saudável. Nas provas de corrida, vi muita mãe e pai literalmente "empinando" crianças pequenas pela pista como se fossem pipas. A corrida era pra quem? Para as crianças curtirem, ou para os pais provarem que seus filhos são os mais velozes e furiosos? 

Posso dizer, com segurança, que minha pequena curtiu cada segundo. Não sabe nem contar até três; portanto, a colocação em que chegaria pouco importava. 

Gosto muito dessa iniciativa de se fazer provas de corrida ao ar livre para crianças desde pequenas. Estimula um comportamento saudável; todos ganham medalhas, água gelada, frutas, tem outras brincadeiras, o percurso é adequado à faixa etária. E ponto final. Se chegam em primeiro ou milésimo sexto, pouco importa. Pena que alguns pais não pensam assim.

 

* Nem sempre a ilusão corresponde à realidade.

Isso a gente sabe, não? Pois é. Os pequenos não fazem a menor ideia disso. Vestir-se toda de rosa, numa sala cheia de meninas-rosa, com música e uma linda professora. Ela encontrou tudo isso em sua aula de ballet. Porém, também encontrou regras mais rígidas, lugar fixo, repetições. Aos dois anos e meio, ela não estava nem um pouco preparada para isso. Às vezes, topa a aula. Mas, muitas vezes, não. O que fazer? Parar de levá-la? Insistir e me estressar toda terça e quinta?

Ainda não encontrei uma resposta, como mencionei anteriormente. Buscamos o equilíbrio dessa forma: ela escolhe se quer ir ou não. Mas, se diz que quer, se veste e entra no carro, tem que fazer um esforcinho para permanecer pelo menos uma parte da aula dentro da sala. Peeps tem ido ao ballet uma vez por semana. Não sei até quando vai.

O interessante - e importante - é que os profissionais sérios do esporte são super familiares com essa possibilidade. Fui conversar com um mestre de taekwondo sobre a possibilidade da pequena frequentar as aulas ainda esse ano, para experimentar. Ele foi bem claro - e sensato - ao dizer que ela ainda é novinha, e certamente não vai conseguir ter atenção suficiente por toda a aula. Sugeriu que fizéssemos uma adaptação gradual nas férias, quando poucas crianças frequentam a academia - e caso ela realmente desista do ballet. Resolvi ser sensata também e seguir o conselho.

 

* Nem sempre um chororô na(s) primeira(s) aulas é sinal de fracasso completo.

Quando a pequena fez tanta questão de ir à natação, estranhei. Ela morre de medo de piscina. Detesta até a água que cai do chuveiro no rosto. Tem desespero de ficar "ilhada" pela água e ter de se deslocar por ela.

Mas foi exatamente por esse motivo que resolvi acatar o pedido. Questão de segurança - frequentamos lugares com mar e piscina; não seria nada mal que soubesse se defender no meio aquático.

A primeira aula foi linda. No colo dos professores (três na piscina para três crianças, um luxo!!!), ficou alegre, conversadeira, arriscou bater perninhas... Só flores.

A segunda aula (e as quatro seguintes) foram um pesadelo. As trevas do inferno. Uma choradeira que já começava no vestiário, e só terminava no final da aula. Medo, muito medo. Medo de largar da borda, medo de andar pela piscina, medo de "fazer bolinhas" com a boca, medo de entrar na água... 
Quase desisti. Conversei com os professores, e eles me encorajaram a tentar mais um pouco. E realmente, aos poucos, ela está se soltando. Já faz festa para ir à aula, se aventura a fazer as tais bolinhas, mas pular na piscina e mergulhar ainda é muita transgressão. 

E ok. Não temos pressa. Nem é preciso. 

 

* É preciso conhecer a academia e os professores ANTES de matricular a criança.

Isso é bem sério. Saber se a criança vai ficar livre demais pro seu gosto, ou num quartel demais pro seu gosto, ou "mais ou menos" demais pro seu gosto é determinante. Você precisa ter confiança nas pessoas a quem confiará seus filhos (óbvio, não? Mas nem sempre as pessoas se lembram disso). 
O ambiente conta muito. As outras pessoas que o frequentam, também. Afinal, seu filho ou filha vai fazer amiguinhos, e vai depender de você - e dos outros pais - que sigam realmente amigos. Ainda acho que somos vistas como "bicho-grilos" demais para a academia que frequentamos, mas ela já foi até convidada para festinha de aniversário. Vamos dar tempo ao tempo.

 

Não sei se o ballet irá adiante. Não sei quanto tempo ela demorará para aprender a nadar. Não sei qual foi a colocação da pequena na prova de corrida na USP. Não sei se ela vai curtir o taekwondo. Não sei se o circuito lúdico é muita "várzea" pra ela. 

Só sei que, por enquanto, Peeps tem se divertido. Não sabe para quê, ao certo, serve uma medalha. E, por enquanto, nem precisa saber. 

 

por Clau Nicolau - 15 de novembro de 2013

 

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